“Ius Momentum”

A comunicação dentro da gestão de conflitos, é o ponto em que as pessoas, normalmente, cometem as falhas que em vez de atenuar os conflitos, inflamam-nos.

A comunicação depende do contexto, do momento, da distância e da dança (adaptabilidade) dos seus intervenientes.

O momento em que a comunicação ocorre, é um elemento-chave na transmissão de uma mensagem.


Imagine três elementos:

  • 1 copo com água.
  • 1 copo com pólvora.
  • 1 copo com acendalhas em fogo

Há 3! (fatorial) combinações possíveis, ou seja, 6 possibilidades (3x2x1).

Porém, o que é interessante é que, se colocarmos, por exemplo, a água, depois o fogo e finalmente a pólvora, será muito diferente de colocar a pólvora, depois o fogo e só no final a água.

Assim é muitas vezes, em métodos de treino, em química, e também na comunicação humana.

A ordem dos fatores impacta no resultado final. (hoje, notoriamente, com inspirações matemáticas).

Pedir desculpa a alguém antes de espoletar (e não despoletar) uma ação que possa ser adversa, é diferente, se o fizer imediatamente a seguir, ou se o fizer no dia seguinte, ou ainda se o fizer muito tempo depois.

O momento certo (ius momentum) para comunicar algo é muito relevante para um comunicador sofisticado.


Um dos aspectos mais relevantes da comunicação no momento certo é o estado emocional do interlocutor.

Como vimos nos últimos artigos, a comunicação é fortemente influenciada pelos filtros pessoais do indivíduo. Ora, as emoções são uma parte importante desses filtros. Funcionam como óculos pelos quais vemos as circunstâncias.

Por isso a melhor altura para tomar decisões é com total ausência de emoções – nem para cima, nem para baixo.

Já lhe ocorreu comprometer-se com algo enquanto estava entusiasmado e com muita energia e depois constatar que, afinal, a tarefa é mais dura e requer muito mais recursos do que aqueles que inicialmente supôs? Foi uma decisão tomada sob uma emoção.

Ou quando decidimos desistir de algum projeto ou relacionamento, porque estamos cansados e nos sentimos desanimados – afetados emocionalmente, portanto.

O ius momentum para comunicar algo deve ter em conta:

  • As emoções do outro – que enviesam a percepção da mensagem. Imagine alguém que está triste por um motivo alheio a mim e decido comunicar algo delicado com potencial de invadir o espaço vital dessa pessoa – pode criar um conflito maior, criado pela comunicação no timing errado.
  • As minhas emoções – que transmitem um mensagem com potencial conflituoso, ao colocar um contexto adverso na voz e na corporalidade.
  • A disponibilidade do outro em receber a mensagem – imagine alguém atrasado para o trabalho – se tentar dar um feedback de algo que não “correu bem” ontem, talvez, crie um conflito adicional que não existia, pela comunicação fora do momento certo. A disponibilidade do outro envolve perceber se ele está cansado, sem tempo, com TPM, ou outros fatores que criam ruído na comunicação.
  • O meu nível de energia – comunicar exige awareness do outro, de mim, e da forma como comunico. A falta de energia, o cansaço, vão criar ruído pela fraca expressão da minha capacidade de comunicação.
  • A importância do assunto a ser comunicado – assuntos corriqueiros exigem pouca energia e disponibilidade, assuntos importantes demandam preparação.

Comunicar de forma sofisticada implica ponderar estes fatores, gerindo-os.

Obviamente, a vida não é quadrada, e, teremos de tentar adequar a nossa comunicação para o melhor possível, dadas as circunstâncias – o que inclui errar (para aprender).

O Professor DeRose contou-me que, certa vez, precisou escrever uma carta importante a algumas pessoas de relevo. Só que a carta inicial não tinha a doçura que ele queria. Ele foi polindo o texto por meses, até finalmente o enviar. Esse foi o momento que ele considerou certo para que a carta tenha seguido com contexto necessário que ele queria.


Até para a semana!

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