Faz parte do imaginário da comunicação não verbal – a deteção de mentiras.
Ativa o nosso mecanismo de defesa pensar que vamos perceber quando alguém estiver a mentir. Porém, em uma abordagem mais eloquente, vamos perceber que a definição da palavra mentira é fluida e uma pessoa comum mente muitas vezes por dia.
É mais interessante a abordagem: inconsistência entre o que a pessoa diz e o que a pessoa pensa e sente.
- Quando alguém nos sorri por uma questão meramente social sem verdadeiro prazer em nos ver, é uma forma de mentira?
- Se alguém finge que nos ouve, mas apenas debita as suas ideias, sem nunca haver comunicação real – será mentira essa pessoa dizer que conversou connosco?
- Se rejeito alguma ideia mas finjo que está tudo bem, ainda que, depois, vá reclamar daquilo, é uma forma de mentira?
Entende onde quero chegar?
Há uma inconsistência grande nas nossas relações diárias.
As emoções, apesar de estarem em praticamente tudo o que fazemos, estão pouco relacionadas à chamada mentira. Com honrosas excepções, que normalmente estão associadas a emoções fortes, com reação do sistema nervoso central (as chamadas microexpressões) e ao fato de termos emoções que mostramos socialmente e outras que mantemos em segredo para nós ou para o nosso grupo mais interno – no dia-a-dia, a inconsistência entre aquilo que a pessoa diz (ou não diz) e aquilo que ela pensa, está muito mais relacionada com o sistema cognitivo.
Este sistema cognitivo é muito mais rápido e ágil.
As emoções, tendencialmente, atuam durante vários minutos ou horas ou mais. Já as pulsões cognitivas ocorrem em meros segundos ou frações destes. Não me refiro às microexpressões mas aos micromovimentos e reações que fazemos constantemente ao nos exprimirmos. Têm uma duração fugaz.
Fazem parte destes micromovimentos e reações, toda a posição do corpo, movimentos inconscientes e semiconscientes feitos com as mãos, com o pescoço, com os olhos, com os pés, dedos, movimentos do cabelo, dos objetos que temos à nossa volta, entre muitos outros.
De um ponto de vista de desenvolvimento, e para aqueles que, de fato, pretendem aperfeiçoar as suas Human Skills, o importante é que o sistema emocional se torne o mais autêntico possível.
E é no sistema cognitivo, que processa as várias informações, que será desejada a verdade, ou melhor, a honestidade.
O grande degrau evolutivo relativamente às emoções, é saber inverter a reciprocidade com autenticidade. Explico.
Há um impulso natural em todos nós em ser recíprocos. Quando alguém é muito querido para nós – queremos retribuir.
Se alguém é agressivo ou indigesto – o impulso também é retribuir, sendo também agressivo e indigesto.
É aqui que reside a genialidade da gestão de conflitos, como aprendi com o Professor DeRose: estar psiquicamente forte que possamos desativar a reciprocidade, quando as emoções são densas ou negativas, porém, mantendo a autenticidade. Este é o grande passo de transformação para uma vida saudável e feliz (segundo o Harvard Hapiness Study como falámos em outro artigo).
Isso é feito através de um mecanismo chamado Sublimação, em que trocamos uma emoção (em moção, emoção, em movimento) por outra.
Oiço alguém perguntar: mas como assim? Então ele fez-me isto e aquilo e agora vou sentir leveza ou tolerância por esta pessoa?
A resposta inteligente é sim, deveria.
A responsabilidade pelo que você come, sente e pensa é sua, ainda que estimulada por outra pessoa.
E a dificuldade em fazê-lo reside, na proporção direta, de recalques emocionais passados que nunca foram digeridos, associados às fantasias, de justiça, imortalidade, estabilidade, e outras, que falaremos em outro artigo.
Há que saber limpar o saco acumulado das experiências sofridas, mantendo a sabedoria, e permitir-se ter contentamento em um mundo brutalmente imperfeito e injusto, mas que, simultaneamente, contém as experiências para polir a nossa consciência, valorizar a nossa qualidade de vida e estabelecer relações de alto nível de humanidade.
Seja a diferença que deseja ver no mundo, agindo por convicção e não por reação ou conveniência, aos inputs dos outros.